Quantas vezes o homem se comporta como uma criança, e até lhe é grato voltar às travessuras de seu tempo de menino, porém esquece que perdeu a inocência e que tais posturas, embora particularizem um estado de ânimo festivo, não se ajustam às regras de conduta próprias de um homem maduro. As primeiras contaminações que se produzem na terna idade da infância e que influem tão consideravelmente no ânimo, na moral e instintos do ser, ocorrem na mente. É nela que tomam forma e se instalam como senhores os pensamentos que mais tarde gravitam decididamente no gênero de vida que se elege para satisfação deles. É fácil, então, compreender que, para eliminar todo pensamento nocivo e impuro, daqueles que corroem o entendimento, seja necessário efetuar uma rigorosa limpeza mental. Isto é primordial, fundamental, caso se queira resgatar paulatinamente o diáfano fulgor da inocência. É preciso saber que a inocência no homem deve ser produto de uma condição superior.
A boa intenção, como a boa-fé, o altruísmo, o sentido do bem, do belo e do justo, são sinais característicos de elevação moral. Ali aparece a pureza de tudo de bom que se pode reunir como manifestação de uma vida gentil, amável, doce e consciente de sua natureza inofensiva e leal. Uma vez perdida a inocência, pode o ser humano voltar a possuí-la? É possível voltar à inocência, quer dizer, à pureza no pensar, no sentir, no proceder e, adicionemos também, no tratamento que dispensamos a nós mesmos. E dizemos a nós mesmos porque é preciso saber que há uma vida de relação própria, uma vida íntima que pertence única e particularmente a cada um.
Ali, nesse íntimo enlace entre a consciência, o coração e a mente, é onde se está perante o juízo que nos interroga e onde todo ser delibera sobre a natureza e o alcance de suas decisões. É justamente nessa vida de relação consigo mesmo que se deve cultivar a pureza fertilizante e ativa que depura o campo mental, permitindo que se deem à luz os pensamentos mais nobres e fecundos, capazes de operar verdadeiros prodígios no interior do ser, como o de conduzi-lo a insuspeitadas metas do conhecimento. Se a Verdade, mãe de todas as verdades, é fonte inesgotável de pureza e de saber, nada mais lógico que o homem busque submergir sua consciência nessa fonte e se sature desse princípio eterno que infunde a temperança e a benignidade, tão necessárias ao temperamento humano. Quantas fisionomias, ao higienizar-se a mente, não se limpariam dessas expressões de malícia, e quantos olhares maliciosos e intrigantes não se tornariam inofensivos, dissipando o receio do próximo ao influxo de sadios e elevados pensamentos, em cuja convivência a vida se transforma em formosos exemplos de bem!
Por: Carlos Bernardo González Pecatche